A
caba de sair o Boletim N.º 6 (Novembro/Dezembro de 2016) da Comboios
XXI, uma associação de utentes de âmbito nacional, com sede em Braga.
Ele está já a ser divulgado e distribuído pelos associados.
Neste número, que fecha o ano de 2016, colocam-se algumas perguntas
que têm sido feitas e que continuam à espera de resposta. Assim, entre
muitas outras, registamos estas que são mais do interesse da região:
Neste momento, os comboios rápidos que existem na linha Braga-Porto
apenas o são entre Braga e Travagem (e vice-versa). Travagem é um
apeadeiro antes de Ermesinde, no sentido Braga-Porto. Ora, quando
teremos comboios que permitam uma viagem rápida desde Braga até Porto
São Bento?
Por outro lado, tem sido frequente verificar que os comboios
urbanos, mormente os que fazem a ligação Braga-Porto, circulam sem som,
nem imagem para informação dos utentes. Será que esta situação, que é
penosa, principalmente de noite, tarda muito a ser corrigida?
É
inaceitável o preço da viagem por comboio Alfa entre Braga e Porto e
vice-versa. Atualmente esse preço é de EUR14,20 euros, em segunda
classe. No Intercidades, por sua vez, tem um custo de EUR11,70. Estes
preços são idênticos, quer para o percurso Porto-Braga, quer para o
percurso Porto-Famalicão e vice-versa. Preços igualmente elevados
existem para o percurso Porto-Guimarães. Torna-se claro que a vontade da
CP é afastar os passageiros destes comboios. Não se compreende qual a
razão, até porque, nestes percursos, os comboios muito raramente vão
cheios.
Quando teremos um preço razoável por estas viagens?
Sucede ainda
que, por vezes, há ligações entre as duas cidades nas quais os
passageiros têm de fazer a viagem de pé. Não se compreende que a CP não
resolva este problema que é de comodidade, mas também , e principalmente
, de segurança.
Para ter informação mais detalhada sobre a Associação Comboios XXI,
acompanhe-a através: http://comboiosxxi.blogspot.pt/
comboiosxxi@gmail.com
PS: Viram os leitores na RTP, na 2.ª feira, dia
26-12-2016 um documentário sobre “Amanhã”? Como poderá ser o mundo de
amanhã se não agirmos? Vi parte e vou procurar ver com mais tempo.
Precisamos de uma economia ao serviço das pessoas.
in Diário do Minho
quinta-feira, 29 de dezembro de 2016
quinta-feira, 8 de dezembro de 2016
O Expresso do dia 3 de dezembro de 2016
Observemos o semanário Expresso do dia 3 de dezembro de 2016 tal como
me foi entregue no quiosque onde o comprei no passado domingo.
Na primeira página aparece, com largo destaque, a fotografia de um bom carro e quatro argolas juntas, indicando a marca. A este propósito não me venham dizer que essa não é a primeira página, que se trata de uma mera página de publicidade. Não! A verdade é outra: a primeira página do Expresso é publicidade e um pouco de vergonha ainda existe, felizmente, pois no canto superior surgia o seguinte título: “O Dinheiro Escondido dos Melhores do Mundo” que era a notícia principal da 2.ª página do jornal.
O Expresso tem muitas páginas e vejamos o que me meteram no saco para além do “Caderno Principal” (42 p.), que costuma ter interesse.
Desde logo, um caderno sobre “Economia” (32 p.), que também tem algum interesse.
Depois, uma revista intitulada “Natal”, publicidade do “El Corte Inglés” ( 228 p.,) que é um hino ao consumo e um insulto ao Natal cristão (mas já nos habituamos) e uma pequena revista de 22 páginas intitulada “Feliz Natal” e que é publicidade a produtos vendidos pelo Continente (também já achamos natural) Ainda uma revista de 16 páginas com o título “Transformação Digital” dedicada às novas tecnologias; uma revista de 16 páginas sobre “Emprego” que tem interesse para quem se encontra à procura de emprego; e um suplemento de 16 páginas sobre “Golfe” com muita publicidade destinada particularmente a quem tem dinheiro que baste.
A finalizar, uma Revista grande com 106 páginas que tem na capa a foto de uma mulher jovem e sorridente deitada numa cama com um crucifixo ( joia) na mão esquerda e um lençol por cima de parte do corpo. É, pelo que se lê no interior, uma boa fadista.
Título destacado na parte lateral da capa: “96 Sugestões de Presentes de Natal”.
Ainda dentro desta mesma Revista veio um suplemento de formato pequeno com 28 páginas de publicidade sobre computadores e outros produtos de tecnologia com o título em destaque “NATAL RP” .
É claro que para tudo isto é preciso um saco de plástico para fazer o transporte. E que diz o saco? Que o Montepio é que é bom. Os leitores carregam o jornal e fazem publicidade ambulante.
Pergunta final: e então porque comprei o Expresso? Porque no meio de tanta porcaria costuma ter coisas de interesse no dito 1.º Caderno e na Revista. Mas num balanço geral começo a perguntar-me se vale a pena gastar 3,20 euros. Sinto-me maltratado.
in Diário do Minho
Na primeira página aparece, com largo destaque, a fotografia de um bom carro e quatro argolas juntas, indicando a marca. A este propósito não me venham dizer que essa não é a primeira página, que se trata de uma mera página de publicidade. Não! A verdade é outra: a primeira página do Expresso é publicidade e um pouco de vergonha ainda existe, felizmente, pois no canto superior surgia o seguinte título: “O Dinheiro Escondido dos Melhores do Mundo” que era a notícia principal da 2.ª página do jornal.
O Expresso tem muitas páginas e vejamos o que me meteram no saco para além do “Caderno Principal” (42 p.), que costuma ter interesse.
Desde logo, um caderno sobre “Economia” (32 p.), que também tem algum interesse.
Depois, uma revista intitulada “Natal”, publicidade do “El Corte Inglés” ( 228 p.,) que é um hino ao consumo e um insulto ao Natal cristão (mas já nos habituamos) e uma pequena revista de 22 páginas intitulada “Feliz Natal” e que é publicidade a produtos vendidos pelo Continente (também já achamos natural) Ainda uma revista de 16 páginas com o título “Transformação Digital” dedicada às novas tecnologias; uma revista de 16 páginas sobre “Emprego” que tem interesse para quem se encontra à procura de emprego; e um suplemento de 16 páginas sobre “Golfe” com muita publicidade destinada particularmente a quem tem dinheiro que baste.
A finalizar, uma Revista grande com 106 páginas que tem na capa a foto de uma mulher jovem e sorridente deitada numa cama com um crucifixo ( joia) na mão esquerda e um lençol por cima de parte do corpo. É, pelo que se lê no interior, uma boa fadista.
Título destacado na parte lateral da capa: “96 Sugestões de Presentes de Natal”.
Ainda dentro desta mesma Revista veio um suplemento de formato pequeno com 28 páginas de publicidade sobre computadores e outros produtos de tecnologia com o título em destaque “NATAL RP” .
É claro que para tudo isto é preciso um saco de plástico para fazer o transporte. E que diz o saco? Que o Montepio é que é bom. Os leitores carregam o jornal e fazem publicidade ambulante.
Pergunta final: e então porque comprei o Expresso? Porque no meio de tanta porcaria costuma ter coisas de interesse no dito 1.º Caderno e na Revista. Mas num balanço geral começo a perguntar-me se vale a pena gastar 3,20 euros. Sinto-me maltratado.
in Diário do Minho
quinta-feira, 1 de dezembro de 2016
Comemorar a Restauração da Independência
Temos o costume, na família, de
comemorar o dia 1 de Dezembro de 1640, o dia da restauração da Independência de
Portugal.
Deslocamo-nos a Guimarães, porque esta
bela cidade honra devidamente esta data. Acompanhamos os “20 arautos de D.
Afonso Henriques” desde o centro histórico, percorrendo, num desfile que junta
muitos participantes, ruas de Guimarães em direção ao Paço dos Duques até à
estátua de D. Afonso Henriques, entoando o Hino da Restauração.
Junto à estátua são proferidas, por
personalidades locais, palavras breves alusivas à efeméride e é interpretado
por um grupo coral nomeadamente o Hino da Restauração e o de Portugal. É uma
cerimónia simples mais cheia de simbolismo.
A independência de Portugal é algo de
que nos devemos orgulhar. A ela devemos que a língua portuguesa seja uma das
mais faladas no mundo e sem essa independência não teríamos seguramente um país
com a grandeza do Brasil (veja-se a América Latina espanhola) e se mesmo assim
ele existisse falaria castelhano e não português. A língua portuguesa, por sua
vez, não estaria espalhada pelo mundo como está.
Temos pelos espanhóis e pelas nações de
Espanha muito carinho (ainda mais agora que o horrível terrorismo basco
pertence , esperemos que para sempre , ao passado), mas Portugal é diferente,
tem a sua identidade e é seguramente da Galiza que estamos mais próximos, tendo
uma língua comum na origem.
A nossa independência não significa,
não deve significar nunca isolamento. Devemos com as nossas caraterísticas, com
a nossa história e com o nosso modo de ser contribuir para a construção de
grandes espaços de convivência fraterna não só a nível europeu (uma melhor
Europa, pois ela está a viver atualmente momentos difíceis) como a nível
mundial. Portugal é um país aberto ao mundo.
E com a vizinha Espanha há uma luta
comum que não podemos descurar: a luta contra o despovoamento do interior.
Escrevo a partir da cidade da histórica Guarda e aqui sente-se bem esse grave
problema.
Portugal sem a sua parte leste
robustecida será um país desequilibrado e pobre. E há tantas potencialidades no
interior.
Finalmente, comemorar a Restauração é
também , e ainda , uma forma de comemorar os 40 anos da
Democracia fundada na Constituição que
felizmente vivemos e temos o dever de aprofundar e melhorar.
in Diário do Minho
quinta-feira, 11 de agosto de 2016
Guerra ou Paz?
(revisto pelo autor)
Ouve-se dizer, frequentemente, que já estamos em guerra ou que vem aí uma guerra. Com isso quer-se dizer que os tempos de Paz que vivemos desde o fim da II Grande Guerra em 1945 (há mais de 70 anos) acabaram ou estão prestes a acabar. E há quem diga isto naturalmente como se fosse uma solução para os problemas que atualmente vivemos.
Ouve-se dizer, frequentemente, que já estamos em guerra ou que vem aí uma guerra. Com isso quer-se dizer que os tempos de Paz que vivemos desde o fim da II Grande Guerra em 1945 (há mais de 70 anos) acabaram ou estão prestes a acabar. E há quem diga isto naturalmente como se fosse uma solução para os problemas que atualmente vivemos.
Tenhamos juízo!
Se um dia – e esperemos firmemente que não! – houver uma nova Grande Guerra os vindouros dirão que vivemos
nestes últimos 70 anos um período de ouro na nossa história, pois os horrores
de uma guerra de largo âmbito nos dias de hoje são inenarráveis, dados os meios
bélicos que existem.
O que
aconteceu até agora com as Torres Gémeas nos Estados Unidos, os atentados em
Madrid, Inglaterra e França, bem como as guerras do Médio Oriente serão coisas
menores (ínfimas) perante o que sucederia numa guerra mundial.
Já se imaginou
o que é lançar bombas atómicas que estão armazenadas e só esperam por uma
loucura dos homens para serem disparadas? Já se imaginou bem os efeitos de
outras armas horrorosas que os países já
inventaram ou estão a inventar ? Pensemos um pouco.
E haverá
loucos, perguntar-se-á, que desencadeiem
um tal horror? A meu ver, não estamos de nenhum modo seguros. Veja-se o perfil de altos líderes políticos em exercício ou
candidatos e tema-se muito não só que dizem, mas o que não dizem mas pensam. Veja-se com
preocupação os problemas que atravessa a nossa Europa. Veja-se o que se tem
passado no Médio Oriente. Tema-se uma
profunda e generalizada crise económica ou o colapso de grandes países como a
China ou a Índia. O pior é possível…
É nosso dever
como cidadãos do mundo lutar com todas
as forças pela Paz. E desde logo contra aqueles que aceitam como
inevitável uma guerra como nunca houve
até hoje. Estejamos sempre do lado da
Paz e trabalhemos incessantemente por
ela.
PS – Os
incêndios destes primeiros dias de
Agosto de 2016 no nosso país dizem-nos
bem do mal que acontece e que poderia ter sido evitado. Houvesse uma boa
política florestal, cuidando devidamente das florestas e matas durante todo o ano, houvesse uma política criminal eficaz
e eficiente que pusesse de quarentena (em termos jurídicos a estudar devidamente),
na época de fogos, os pirómanos e tudo seria muito diferente.
quinta-feira, 4 de agosto de 2016
Linha do Minho: Eletrificação até 2020?
Pode
ler-se no Boletim n.º 2 da Associação Comboios XXI (julho de 2016),
fazendo eco do que foi dito nos meios de comunicação social, que a Linha
do Minho ficará eletrificada entre Nine e Valença em 2020.
Esta foi a declaração feita, em Barcelos, pelo ministro do Planeamento e das Infraestruturas, Pedro Marques, mas foi apenas uma declaração política. E embora mereçam toda a atenção as declarações políticas, a realidade administrativa é outra coisa.
Para a eletrificação ser real importa que se adjudique a obra a um empreiteiro (de qualidade) e isso implica abrir um concurso pela IP.
Adjudicada a obra, importa que o contrato que lhe serviu de base tenha sido feito com todo o cuidado, prevendo a data de conclusão e entrega da obra (e não é o mesmo janeiro de 2020 ou dezembro do mesmo ano), o acompanhamento qualificado da mesma, medidas a tomar caso o empreiteiro não cumpra e aqui mais importante do que as sanções são as alternativas como, por exemplo, a entrega rápida a outro empreiteiro não vá suceder o mesmo que na eletrificação entre Caíde e Marco.
Ao mesmo tempo e noutro plano, importa que a CP adquira material circulante moderno (com instalações sanitárias!) e assim igualmente abra um concurso, acompanhe a sua execução e preveja medidas alternativas para o não cumprimento do contrato.
Assim sucederá? É aqui que a opinião pública, e com ela nomeadamente as autarquias locais, tem um papel da maior importância. Isto não é assunto apenas da IP e da CP, é assunto que nos diz respeito, pois é para nós cidadãos utentes que as obras e a aquisição de material circulante serão feitas.
Por isso, importa desde já perguntar e saber estas e outras coisas: Sabendo-se que o concurso já foi aberto (estava previsto para março de 2016), a obra já foi adjudicada? E a quem? E como estamos de material circulante? Que composições vão ser adquiridas? Quais as suas caraterísticas? E estarão operacionais em 2020? Infelizmente, a informação quer da IP quer da CP está longe de ser exemplo de boa relação com os cidadãos. Parece que estes são vistos por aquelas empresas como um estorvo e não como um aliado (ver o Boletim n.º 2 da Associação).
O nosso papel é antes de mais informar e assim faremos. Não é tarefa fácil quando quem tem a informação não a disponibiliza de modo claro, completo e fácil. O Alto Minho não pode ficar para trás numa linha que para sul é dupla e está eletrificada (Nine-Porto) e para Norte (na Galiza) está eletrificada e, em grande parte, tem já autoestradas ferroviárias.
Estamos seguros que as autarquias da região e a CIM do Alto Minho não descansarão na defesa dos direitos das populações respetivas.
Isto não é assunto apenas da IP e da CP, é assunto que nos diz respeito, pois é para nós cidadãos utentes que as obras e a aquisição de material circulante serão feitas.
in Diário do Minho
Esta foi a declaração feita, em Barcelos, pelo ministro do Planeamento e das Infraestruturas, Pedro Marques, mas foi apenas uma declaração política. E embora mereçam toda a atenção as declarações políticas, a realidade administrativa é outra coisa.
Para a eletrificação ser real importa que se adjudique a obra a um empreiteiro (de qualidade) e isso implica abrir um concurso pela IP.
Adjudicada a obra, importa que o contrato que lhe serviu de base tenha sido feito com todo o cuidado, prevendo a data de conclusão e entrega da obra (e não é o mesmo janeiro de 2020 ou dezembro do mesmo ano), o acompanhamento qualificado da mesma, medidas a tomar caso o empreiteiro não cumpra e aqui mais importante do que as sanções são as alternativas como, por exemplo, a entrega rápida a outro empreiteiro não vá suceder o mesmo que na eletrificação entre Caíde e Marco.
Ao mesmo tempo e noutro plano, importa que a CP adquira material circulante moderno (com instalações sanitárias!) e assim igualmente abra um concurso, acompanhe a sua execução e preveja medidas alternativas para o não cumprimento do contrato.
Assim sucederá? É aqui que a opinião pública, e com ela nomeadamente as autarquias locais, tem um papel da maior importância. Isto não é assunto apenas da IP e da CP, é assunto que nos diz respeito, pois é para nós cidadãos utentes que as obras e a aquisição de material circulante serão feitas.
Por isso, importa desde já perguntar e saber estas e outras coisas: Sabendo-se que o concurso já foi aberto (estava previsto para março de 2016), a obra já foi adjudicada? E a quem? E como estamos de material circulante? Que composições vão ser adquiridas? Quais as suas caraterísticas? E estarão operacionais em 2020? Infelizmente, a informação quer da IP quer da CP está longe de ser exemplo de boa relação com os cidadãos. Parece que estes são vistos por aquelas empresas como um estorvo e não como um aliado (ver o Boletim n.º 2 da Associação).
O nosso papel é antes de mais informar e assim faremos. Não é tarefa fácil quando quem tem a informação não a disponibiliza de modo claro, completo e fácil. O Alto Minho não pode ficar para trás numa linha que para sul é dupla e está eletrificada (Nine-Porto) e para Norte (na Galiza) está eletrificada e, em grande parte, tem já autoestradas ferroviárias.
Estamos seguros que as autarquias da região e a CIM do Alto Minho não descansarão na defesa dos direitos das populações respetivas.
Isto não é assunto apenas da IP e da CP, é assunto que nos diz respeito, pois é para nós cidadãos utentes que as obras e a aquisição de material circulante serão feitas.
in Diário do Minho
quarta-feira, 13 de abril de 2016
Sobre o Serviço Nacional de Justiça
Costumamos utilizar na linguagem corrente a expressão "serviço nacional de saúde", mas não a de "serviço nacional de justiça" e, no entanto, bem deveríamos, pois há boas razões para o fazer.
O serviço nacional de saúde visa fundamentalmente reparar situações de doença, restituindo aos cidadãos, a saúde; o serviço nacional de justiça visa, no seu núcleo essencial, reparar situações de injustiça, restituindo aos cidadãos a confiança na justiça.
Para cumprir a sua missão, o serviço nacional de saúde utiliza principalmente organizações que chamamos hospitais e o serviço nacional de justiça utiliza tribunais. Existe assim, por todo o país, uma rede de hospitais e uma rede de tribunais de diversa espécie por forma a garantir o cumprimento da razão de existência de uns e outros. Historicamente, o serviço nacional de justiça é até muito mais antigo do que o serviço nacional de saúde.
Nos hospitais pontificam os médicos, nos tribunais os magistrados (juízes, principalmente). Mas ainda aqui as semelhanças mantêm-se e mal da saúde e mal da justiça se vivessem só de médicos ou de juízes, pois não levariam a bom termo a sua missão. Há uma organização muito complexa sem a qual estes serviços não funcionam. As semelhanças são enormes e poderíamos continuar a desfiá-las, falando por exemplo do direito de acesso dos cidadãos à proteção da saúde e à justiça, mas as diferenças também. Sem entrarmos no núcleo do que é a prestação de cuidados de saúde ou do que é a administração da justiça, aí está a Constituição para nos dizer, por exemplo, que "os tribunais são os órgãos de soberania com competência para administrar a justiça em nome do povo" (artigo 202.º).
Esta afirmação dos tribunais como "órgãos de soberania", que efectivamente são, teve ao longo das últimas décadas, um efeito perverso e constitucionalmente indesejado, que foi o de fazer esquecer (ou deixar para segundo plano) as exigências de serviço público da administração da justiça, serviço público muito especial que necessita para o seu bom funcionamento de juízes independentes e imparciais. E o que se exige de um serviço público de justiça? Algo que a própria Constituição claramente define: satisfazer o direito dos cidadãos a uma decisão judicial (sentença, em sentido amplo) de acordo com o direito em prazo razoável.
Aqui chegados, a pergunta que se coloca é esta: está este direito devidamente garantido no nosso país? A resposta só pode ser dada com informação adequada, facilmente acessível e inteligível pelo cidadão médio.
in JORNAL PÚBLICO
O serviço nacional de saúde visa fundamentalmente reparar situações de doença, restituindo aos cidadãos, a saúde; o serviço nacional de justiça visa, no seu núcleo essencial, reparar situações de injustiça, restituindo aos cidadãos a confiança na justiça.
Para cumprir a sua missão, o serviço nacional de saúde utiliza principalmente organizações que chamamos hospitais e o serviço nacional de justiça utiliza tribunais. Existe assim, por todo o país, uma rede de hospitais e uma rede de tribunais de diversa espécie por forma a garantir o cumprimento da razão de existência de uns e outros. Historicamente, o serviço nacional de justiça é até muito mais antigo do que o serviço nacional de saúde.
Nos hospitais pontificam os médicos, nos tribunais os magistrados (juízes, principalmente). Mas ainda aqui as semelhanças mantêm-se e mal da saúde e mal da justiça se vivessem só de médicos ou de juízes, pois não levariam a bom termo a sua missão. Há uma organização muito complexa sem a qual estes serviços não funcionam. As semelhanças são enormes e poderíamos continuar a desfiá-las, falando por exemplo do direito de acesso dos cidadãos à proteção da saúde e à justiça, mas as diferenças também. Sem entrarmos no núcleo do que é a prestação de cuidados de saúde ou do que é a administração da justiça, aí está a Constituição para nos dizer, por exemplo, que "os tribunais são os órgãos de soberania com competência para administrar a justiça em nome do povo" (artigo 202.º).
Esta afirmação dos tribunais como "órgãos de soberania", que efectivamente são, teve ao longo das últimas décadas, um efeito perverso e constitucionalmente indesejado, que foi o de fazer esquecer (ou deixar para segundo plano) as exigências de serviço público da administração da justiça, serviço público muito especial que necessita para o seu bom funcionamento de juízes independentes e imparciais. E o que se exige de um serviço público de justiça? Algo que a própria Constituição claramente define: satisfazer o direito dos cidadãos a uma decisão judicial (sentença, em sentido amplo) de acordo com o direito em prazo razoável.
Aqui chegados, a pergunta que se coloca é esta: está este direito devidamente garantido no nosso país? A resposta só pode ser dada com informação adequada, facilmente acessível e inteligível pelo cidadão médio.
in JORNAL PÚBLICO
quinta-feira, 7 de abril de 2016
Os Atrasos da Justiça
Num livro de leitura obrigatória para quem se interessa pelo bom funcionamento da justiça – e que já tivemos ocasião de referir nestas colunas do DM – pode ler-se que “A celeridade é hoje um pilar essencial de um sistema de justiça que se pretenda de excelência” (Manual de Gestão Judicial – José Igreja Matos, José Mouraz Lopes, Luís Azevedo Mendes e Nuno Coelho, 2015, p. 127).
Ora, é sobre este pilar da justiça que Conceição Gomes, investigadora do Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra e coordenadora executiva do Observatório Permanente da Justiça Portuguesa, escreveu um ensaio intitulado “Os Atrasos da Justiça” publicado na coleção de bolso da Fundação Francisco Manuel dos Santos e que merece igualmente leitura atenta. Trata-se de um livro com pouco mais de 100 páginas, rigoroso no conteúdo mas de leitura fácil, percebendo-se que foi escrito a pensar no cidadão médio e estando disponível por apenas 5 euros.
A autora tem a preocupação de fazer o devido enquadramento deste problema, que não é fácil de resolver, mas que tem solução e uma solução que deve ser procurada de forma inteligente e persistente. Não é possível aceitar passivamente, escreve, o “forte sentimento” que há na sociedade portuguesa de que “o tempo da justiça é muito lento, de que a justiça chega sempre tarde e, em alguns casos, irremediavelmente tarde” (p.11) e assim se compreende que afirme logo de seguida que “mais do que auxiliar os cidadãos portugueses a compreenderem porque a justiça se atrasa, espero que este ensaio ajude a transformar esse conhecimento em maior exigência social por uma justiça eficiente e de qualidade” (p.12).
Rico de informações sobre a realidade portuguesa dos atrasos da justiça e das consequências negativas que daí resultam, nomeadamente a “fragilização do Estado de Direito” (p. 108) não encontramos nele soluções para este grave problema, não é o esse o seu objetivo, mas encontramos pistas para esse efeito e assim pertinentes remissões para instituições, estudos e outras publicações nacionais e internacionais que podem conduzir a bom porto.
Acabado de ler este livro, datado de 2011, fica-nos a vontade de mais e leva-nos a incitar a autora a fazer uma 2.ª edição em que se reflita já sobre a reforma judicial de 2014 e integre também dados sobre a justiça administrativa e tributária. Também se justifica uma informação mais detalhada sobre números, embora os números, sem mais, sejam enganadores, como bem diz.
Impressiona saber que em 2009, de acordo com as estatísticas da justiça “o volume das pendências mantém-se em níveis muito elevados” sendo então de 1.614.486 processos (p. 90).
PS – Ouviram o relato da resposta que um menino, refugiado da Eritreia, de 5 anos, acolhido em Sintra, deu a uma pergunta que foi feita a crianças sobre o que levariam consigo se tivessem de fugir? Não foi um boneco, nem um livro ou coisa semelhante, foi a bébé! E a bébé era uma irmã de 3 anos que o menino tinha trazido ao colo durante a viagem! Como é grande a nossa insensibilidade perante o problema dos refugiados!
in Diário do Minho
Ora, é sobre este pilar da justiça que Conceição Gomes, investigadora do Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra e coordenadora executiva do Observatório Permanente da Justiça Portuguesa, escreveu um ensaio intitulado “Os Atrasos da Justiça” publicado na coleção de bolso da Fundação Francisco Manuel dos Santos e que merece igualmente leitura atenta. Trata-se de um livro com pouco mais de 100 páginas, rigoroso no conteúdo mas de leitura fácil, percebendo-se que foi escrito a pensar no cidadão médio e estando disponível por apenas 5 euros.
A autora tem a preocupação de fazer o devido enquadramento deste problema, que não é fácil de resolver, mas que tem solução e uma solução que deve ser procurada de forma inteligente e persistente. Não é possível aceitar passivamente, escreve, o “forte sentimento” que há na sociedade portuguesa de que “o tempo da justiça é muito lento, de que a justiça chega sempre tarde e, em alguns casos, irremediavelmente tarde” (p.11) e assim se compreende que afirme logo de seguida que “mais do que auxiliar os cidadãos portugueses a compreenderem porque a justiça se atrasa, espero que este ensaio ajude a transformar esse conhecimento em maior exigência social por uma justiça eficiente e de qualidade” (p.12).
Rico de informações sobre a realidade portuguesa dos atrasos da justiça e das consequências negativas que daí resultam, nomeadamente a “fragilização do Estado de Direito” (p. 108) não encontramos nele soluções para este grave problema, não é o esse o seu objetivo, mas encontramos pistas para esse efeito e assim pertinentes remissões para instituições, estudos e outras publicações nacionais e internacionais que podem conduzir a bom porto.
Acabado de ler este livro, datado de 2011, fica-nos a vontade de mais e leva-nos a incitar a autora a fazer uma 2.ª edição em que se reflita já sobre a reforma judicial de 2014 e integre também dados sobre a justiça administrativa e tributária. Também se justifica uma informação mais detalhada sobre números, embora os números, sem mais, sejam enganadores, como bem diz.
Impressiona saber que em 2009, de acordo com as estatísticas da justiça “o volume das pendências mantém-se em níveis muito elevados” sendo então de 1.614.486 processos (p. 90).
PS – Ouviram o relato da resposta que um menino, refugiado da Eritreia, de 5 anos, acolhido em Sintra, deu a uma pergunta que foi feita a crianças sobre o que levariam consigo se tivessem de fugir? Não foi um boneco, nem um livro ou coisa semelhante, foi a bébé! E a bébé era uma irmã de 3 anos que o menino tinha trazido ao colo durante a viagem! Como é grande a nossa insensibilidade perante o problema dos refugiados!
in Diário do Minho
quinta-feira, 24 de março de 2016
quinta-feira, 18 de fevereiro de 2016
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