Esta concepção tem
sido, a meu ver, mal interpretada, pois se dá a entender que em democracia vale
tudo, desde que seja expressão da vontade da maioria e isso não é verdade.
Quando a maioria
dos eleitores elege um ditador, a democracia
deixa de existir. Já não é democracia. Por isso, a vontade da maioria tem
limites, a maioria não pode tudo.
O mesmo se diga
quando num determinado regime se violam de forma permanente direitos
fundamentais da pessoa humana, como a liberdade de expressão, o direito de
crítica, o direito de exigir eleições livres, o direito à vida e integridade
física ou se permite a prisão sem justo fundamento. Quando tal sucede a
democracia, se existia, terminou. Já estaremos
num regime ditatorial.
O teste à
democracia faz-se, obtendo resposta positiva, entre outras, às seguintes
perguntas: as eleições são periódicas, livres e devidamente escrutinadas? As
minorias são respeitadas? A liberdade de imprensa e dos restantes meios de
comunicação social existe? Quem é preso tem direito a ser ouvido por um juiz
independente e imparcial? Os cidadãos têm direito de recorrer aos tribunais quando
lesados nos seus direitos? Os tribunais funcionam?
A democracia tem
como fundamento o respeito pela dignidade da pessoa humana (de todas as
pessoas) e só depois vem a vontade da maioria. Esta ocupa um lugar de grande relevo,
mas tem, como verificamos, limites. Ultrapassados esses limites temos ditadura
da maioria e não democracia.
E ditadura da
maioria é ditadura.
A ditadura
mostra-se bem: apodera-se do poder e não lhe interessam nem os direitos
fundamentais dos cidadãos, nem eleições livres, e muito menos oposição. Gosta
da unanimidade, tolerando apenas percentagens ridículas de oposição em eleições.
É preciso ter
muito cuidado porque, por vezes, ela surge
disfarçada. Começa com uma votação aparentemente livre e esclarecida e depois,
com maior ou menor rapidez, os eleitos revelam a verdadeira face. Por isso, são
precisos cidadãos esclarecidos e activos.
Não podemos esquecer que não há democracia
sem democratas.
(Artigo de opinião publicado no Diário do Minho de 24-05-2018)
(Artigo de opinião publicado no Diário do Minho de 24-05-2018)