É evidente que há uma leitura política desta tragédia e que há quem mate em nome daquilo que se denomina “Estado Islâmico” lutando contra o inimigo que é a Europa (União Europeia). Mas essa complexa leitura política não pode afastar uma leitura que é de natureza mais pessoal. Como é possível haver pessoas que matam inocentes e se matam sem ter consciência do Mal que praticam? Antes de avançar é preciso ter presente que há pessoas, no nosso país, que igualmente matam e se matam. Não é por razões da mesma natureza, nem com o grau de destruição que se verificou em Bruxelas, mas há portugueses, bem portugueses, que por razões sentimentais, por razões de dinheiro ou outras, matam, inclusive inocentes, e se matam logo a seguir.
Excluindo os casos de doença mental, voltemos a questionar-nos sobre as razões deste comportamento humano. Não tenho resposta simples, mas algo me diz que há aqui uma responsabilidade individual que não se pode ignorar.
Não ignoramos, é verdade, a decadência da civilização europeia de que fazemos parte que tudo relativiza e em que parece não haver distinção entre o Bem e o Mal, nem ignoramos o fanatismo religioso, que em nome de Deus, pratica os maiores crimes, mas tudo isso pode quando muito explicar comportamentos desumanos, não os justificar.
E a conclusão que podemos tirar deste tempo em que nos é dado viver é que nos cabe optar: estar do lado do Bem e lutar por ele, o que implica o maior respeito pelo semelhante e desde logo pela sua vida ou estar do lado do Mal com tudo o que isso significa, desde logo, o desprezo pelos outros.
Não, não é de guerra que precisamos, mesmo quando nos matam, através desta guerrilha urbana com que vamos muito provavelmente ter de conviver. Do que precisamos, é de lutar por aquilo que o ser humano tem de mais nobre que é a capacidade de amar o próximo, sem prejuízo de lutar também pela justiça humana. Justiça, não vingança.
in Diário do Minho