quinta-feira, 24 de março de 2016

Terrorismo, Bruxelas e Páscoa

Não costumo escrever sobre política nacional ou internacional, pois embora seja tema do maior interesse já há quem muito escreva sobre ele e com maior conhecimento. De qualquer modo é difícil, depois dos atentados de terça-feira, dia 22, em Bruxelas, que causaram mais de 30 mortos e mais de 200 feridos, ficar indiferente e escrever sobre outro assunto. 
O que aconteceu interpela-nos e ainda mais nesta semana da Páscoa, pois para quem acredita que o nosso semelhante é nosso irmão, verificar que temos irmãos que são “bombas de destruição” abala-nos. Uma leitura destes acontecimentos, à luz desta semana maior, leva-nos a concluir que em cada pessoa o Bem e o Mal estão presentes e que muitas vezes este se sobrepõe. 

É evidente que há uma leitura política desta tragédia e que há quem mate em nome daquilo que se denomina “Estado Islâmico” lutando contra o inimigo que é a Europa (União Europeia). Mas essa complexa leitura política não pode afastar uma leitura que é de natureza mais pessoal. Como é possível haver pessoas que matam inocentes e se matam sem ter consciência do Mal que praticam? Antes de avançar é preciso ter presente que há pessoas, no nosso país, que igualmente matam e se matam. Não é por razões da mesma natureza, nem com o grau de destruição que se verificou em Bruxelas, mas há portugueses, bem portugueses, que por razões sentimentais, por razões de dinheiro ou outras, matam, inclusive inocentes, e se matam logo a seguir. 

Excluindo os casos de doença mental, voltemos a questionar-nos sobre as razões deste comportamento humano. Não tenho resposta simples, mas algo me diz que há aqui uma responsabilidade individual que não se pode ignorar. 
Não ignoramos, é verdade, a decadência da civilização europeia de que fazemos parte que tudo relativiza e em que parece não haver distinção entre o Bem e o Mal, nem ignoramos o fanatismo religioso, que em nome de Deus, pratica os maiores crimes, mas tudo isso pode quando muito explicar comportamentos desumanos, não os justificar. 

E a conclusão que podemos tirar deste tempo em que nos é dado viver é que nos cabe optar: estar do lado do Bem e lutar por ele, o que implica o maior respeito pelo semelhante e desde logo pela sua vida ou estar do lado do Mal com tudo o que isso significa, desde logo, o desprezo pelos outros. 

Não, não é de guerra que precisamos, mesmo quando nos matam, através desta guerrilha urbana com que vamos muito provavelmente ter de conviver. Do que precisamos, é de lutar por aquilo que o ser humano tem de mais nobre que é a capacidade de amar o próximo, sem prejuízo de lutar também pela justiça humana. Justiça, não vingança.

in Diário do Minho