sexta-feira, 3 de maio de 2019

A dignidade do trabalho

A dignidade do trabalho E screver este texto no primeiro dia de Maio é trabalho, ainda que voluntário. Era mais fácil e agradável passear, nesta manhã cheia de sol, ler jornais ou livros de que gostamos, ou ainda conversar. Vamos, então, ao trabalho.

Podia escrever sobre muitas coisas, mas escolho duas: o trabalho ao domingo nas superfícies comerciais e a participação dos trabalhadores nas empresas.

Por superfícies comerciais entendemos, aqui, aquelas que possuem um edifício próprio e estacionamento em larga escala para os consumidores. Costumam situar-se na periferia de cidades e vilas, mas muitas vezes penetram mesmo nestas. Estão abertas todos os dias da semana e têm também como característica a precariedade e os baixos salários dos seus trabalhadores.

A abertura aos domingos e feriados tem argumentos a favor, desde logo, a possibilidade de as pessoas poderem fazer compras num dia que é mais livre para a grande maioria delas (pelo menos, por enquanto).

Mas existem importantes argumentos contra, desde logo, o de obrigar milhares de pessoas a trabalhar aos domingos e aos fer iados num serviço não essencial e, por outro, o de fazer concorrência pouco leal aos estabelecimentos que, por serem mais pequenos, não têm possibilidade de abrir todos os dias da semana, sem uma vida escrava.

Bastaria, por isso, a abertura das grandes superfícies à noite, que já ocorre, e, quando muito, a abertura aos domingos e feriados da parte da manhã para equilibrar interesses.

Repare-se, ainda, que estão a surgir agora umas filiais (“capelas”) destas “igrejas do consumo” que se instalam nos centros das cidades e vilas e que trazem o mesmo vício de abrir aos domingos e feriados. Têm a mesma filosofia.

Falemos, agora, das empresas como comunidades de trabalho.
Estamos habituados a ver as empresas como organizações em que de um lado estão os patrões e do outro os trabalhadores inteiramente afastados e em luta.

Não deveria ser assim. Já há, mas são poucas, empresas em que os patrões repartem, por exemplo, lucros com os trabalhadores e estes participam na vida delas como algo que, de certa forma, também lhes pertence. Têm orgulho na empresa onde trabalham.

É um dever civilizacional fazer das empresas (incluindo as grandes superfícies) comunidades de trabalho, o que implica transparência na vida das mesmas e respeito (também remuneratório) pelo papel de todos os que nelas trabalham, uns como proprietários e dirigentes, outros como colaboradores, exercendo o trabalho subordinado que lhes cabe.

Repare-se que os trabalhadores podem, ou não, participar nos lucros e na vida da empresa, mas “participam” sempre nos prejuízos, ora com salários em atraso, que muitas vezes não recebem, ora com perda de emprego.

Eis, muito sumariamente, dois temas diferentes, mas próximos no essencial: o respeito pela dignidade das pessoas.

(Artigo de opinião publicado no Diário do Minho de 3-5-2019)