sábado, 14 de outubro de 2023

Fratelli Tutti!

“Fratelli Tutti” somos todos irmãos, eis algo em que acreditamos porque todos bons e maus somos filhos de Deus, nosso Pai. Aqui não há não há excepções, não há “mas”.

O que os nossos irmãos do “Hamas” fizeram em Israel é horroroso e diz bem do que é capaz o ser humano no seu pior, na sua maldade. Aqui também não há “mas”, não há justificação possível. É o horror em toda a sua máxima expressão.

O que os nossos irmãos de Israel vão fazer perante estes crimes hediondos é o que vamos ver em toda a sua extensão nos próximos dias. Ouvimos falar em retaliação e esta palavra está ligada à pena de Talião, olho por olho, dente, por dente. E se assim for, apenas temos de dizer que ambos são iguais. Também aqui não há “mas”, não há justificação.

O horror praticado por uns não justifica o horror praticado por outros, mesmo que seja um horror igual. Pior ainda, se for uma vingança terrível.

O que fazer, então?

Por um lado, fazer tudo o que estiver ao nosso alcance para dizer aos irmãos do Hamas que o que fizeram não se faz e que devem pedir perdão por isso. Sei que os leitores estarão a dizer algo como “ mas que ingenuidade!” como é possível esperar que os do Hamas reconheçam o mal que fizeram? Pois, mas afirmar isso significa que não os consideramos irmãos capazes do bem e do mal. Só os consideramos capazes do mal. Lá no fundo, não os consideramos irmãos.

Por outro lado, fazer também tudo para convencer os nossos irmãos de Israel que o caminho a seguir não é imitar ou ultrapassar o mal causado pelos adversários, fazendo o mesmo que eles, o que significa uma irmandade no mal. É a pior solução possível.

Há que romper este círculo vicioso e ser capaz de perdoar ( sem deixar de fazer toda a justiça possível). Perdoar se não 70x7 (e este perdão não se aplica apenas às pessoas, mas aos povos que não são outra coisa que pessoas em grande número), pelo menos perdoar alguma coisa e iniciar um caminho de Paz com a ajuda de terceiros.

Quem depois de todo este Mal, falar de paz e não de guerra ou terrorismo e trabalhar nesse sentido pratica o Bem e honra o Pai, merecendo a gratidão de todos nós irmãos que habitamos a Terra.

Certamente isso não sucederá, não sou tão ingénuo como se possa pensar, mas dizer isto é um dever que temos, rezando, falando e agindo em toda a medida das nossas possibilidades.

Os irmãos da Palestina e de Israel têm o direito e o dever de viver juntos e em Paz, exactamente porque são irmãos, tendo igual dignidade.

Importa não perder a Esperança, por muito pequena que ela seja e longe que ela ande.

(Artigo de opinião publicado no Diário do Minho, de 14-10-2023)