O título “Os humanos humanos” parece uma repetição , mas não é. Todos somos humanos, mas nem todos somos humanos.
Por humanos entendemos os seres semelhantes a nós que vivem à face da terra. São actualmente cerca de oito mil milhões, tendo a China mais de um milhão e quatrocentos mil e os Estados Unidos mais de trezentos milhões. Portugal tem dez milhões o que significa um pouco mais do que um em mil. Mas são também humanos os que se caracterizam pela sua humanidade, querendo com isso dizer bondade, compaixão e ajuda pelo próximo, numa palavra, os que se alegram com o bem do seu semelhante e os que sofrem com o seu sofrimento. E estes, então, são menos.
É dos humanos humanos que queremos tratar e dizer que eles devem ser o exemplo e o sentido da nossa vida.
Como é bom ver um pai e uma mãe dedicados aos seus filhos e que se sacrificam, quanto necessário for, para o bem de todos. Homem (o mesmo se diga da mulher) que não abandona o lar porque sente e vive a responsabilidade de ter uma mulher e filhos. E não abandona o lar até tendo motivos para o fazer, mas considerando que são maiores as razões que o levam a manter a vida familiar, desde logo pelo bem dos filhos.
Como é bom ver um casal sem filhos, que não azeda por esse facto e antes se preocupa com o bem estar dos outros desde logo as crianças, sabendo que todas as crianças do mundo são nossos filhos ou nossos netos, conforme a idade.
Como é bom ver humanos que não vivem só para si, para o seu bem estar. Como é bom ver humanos capazes de perdoar as ofensas que lhe foram feitas, mesmo não rezando o Pai Nosso ( ou rezando-o).
Humanos que tendo sido ofendidos, humilhados, agredidos, presos ou vítimas de outro mal não se vingam, mas sofrem em silêncio, pedem justiça, mas não retribuem o mal que lhes foi feito. Apenas um exemplo: Nelson Mandela e a sua vida depois de 27 anos preso por razões políticas.
Humanos que sabem que devemos transmitir a natureza melhor do que a encontramos aos nossos filhos, às gerações futuras e por isso a acarinham e procuram preservar e recuperar.
Humanos que por culpa, desleixo, incúria nossa, talvez, precisam da nossa atenção, pois correm o risco de perder a dignidade e de se tornaram capazes de praticar as maiores atrocidades..
Tanto mais haveria a dizer. Estas linhas foram escritas em dia de Santó António (13 de julho de 2021) e depois da releitura nestas semanas mais próximas de “Fratelli Tutti” e “Laudato Si’” recentes documentos da Igreja dirigidos aos crentes, mas também a todos os humanos.
(Artigo de opinião publicado no Diário do Minho, de 17-05-2021)