Tenho muita dificuldade em compreender que alguém, que possui
rendimentos ou bens que lhe permitem viver tranquilo nomeadamente no que
respeita à alimentação, a cuidados de saúde e à habitação não se
preocupe seriamente com aqueles que não possuem o essencial para viver
dignamente. Igual dificuldade sinto em compreender que alguém que viva
em Paz no território onde reside, não se preocupe com as pessoas que
sofrem os horrores da Guerra, esse monstro de que falava o Padre António Vieira.
Devemos ser interpelados por estes sofrimentos e agir em conformidade.
Uma forma muito próxima consiste em ajudar quem necessita e se não
diretamente através de esmolas, pois estas não costumam resolver
problemas, então através de apoio a entidades de solidariedade que
auxiliam quem precisa a nível local, nacional ou internacional.
Outro modo de manifestar preocupação é lutar por uma sociedade mais
justa e, desde logo, por uma economia de partilha e não de consumo.
Custa-me ver a exibição de tantos bens de luxo quando tantos não têm os
bens essenciais. Custa-me ver os supermercados cheios de alimentos que
estão à espera do fim do prazo de validade para irem, na sua grande
maioria, para o lixo.
Acredito que, se os bens que produzimos fossem devidamente
distribuídos a nível nacional e internacional, a fome e a sede não
teriam lugar, ou pelo menos não seriam um grave problema para milhões e
milhões de pessoas.
É certo que não é fácil construir uma sociedade justa, nem sequer
fazer chegar, muitas vezes, os bens essenciais a quem deles necessita.
Mas alguém tem dúvida que se houvesse vontade forte dos cidadãos e com
eles dos governantes a nível nacional e internacional tais objetivos
seriam conseguidos? Lutar pela Paz é outra preocupação que devemos ter.
Ajudar, pelas formas que estiverem ao alcance de cada um de nós, os que
trabalham pela Paz.
Neste domínio há um problema que nos envergonha a todos que é a
venda de armas Alguém tem dúvida que se houvesse vontade forte a nível
nacional e internacional (e nesta coisa das armas os países que as
produzem e vendem estão bem identificados e são países ricos) as guerras
seriam menos duradouras e menos horrorosas? Muitos sentirão a
impotência para lutar contra tão grandes males. Mas se pensássemos no
que cada um de nós pode fazer (e o fizesse) e não no que os outros podem
fazer, estou seguro que o mundo mudaria para muito melhor.
É tarefa de cada um de nós estar do lado certo. Do lado da Paz, da dignidade de todas e de cada uma das pessoas.
in Diário do Minho
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