quinta-feira, 2 de janeiro de 2025

O Dinheiro é Lindo!

             Vivemos, em Portugal,  numa sociedade em que o dinheiro é deus e senhor!

E, no entanto,  teimamos em dizer que esta sociedade e civilização  é fundamentalmente cristã. Não! É claramente uma sociedade pagã. Em qualquer conversa banal depois da saúde ( e principalmente  se não a tivermos) é o dinheiro que domina.

Todos achamos que temos pouco e é bem verdade que a enorme maioria dos portugueses precisa de um pouco mais de dinheiro para ter uma vida melhor. Mas exageramos. Não nos contentamos com ter o suficiente para a alimentação e vestuário , uma habitação  condigna e um automóvel médio para deslocações e viagens que precisamos de fazer. Queremos mais. Quase somos insaciáveis. Queremos um melhor automóvel, uma melhor habitação, férias no estrangeiro e tantas coisas mais,  muitas vezes desnecessárias. E para isso é preciso dinheiro e eis-nos a  queixarmo-nos  da falta dele.

E procurámo-lo a pensar na melhor forma de o obter, seja no trabalho duro, por vezes  em duplo emprego, outras vezes em negócios que esperamos dar bom dinheiro  e no jogo (tornado vício)  entre outros meios, muitas vezes merecedores de crítica. O dinheiro nunca nos parece muito. Nem para os ricos que não param de acumular riquezas. As excepções são raras.

Tivemos um bom exemplo disso na recente desistência de um consultor do Banco de Portugal nomeado para exercer as funções de secretário-geral do Governo com a finalidade de coordenar o apoio a este, obtendo maior eficiência e qualidade do serviço público. Desistiu porque estava a ganhar mais de 15.000 euros mensais  e ia passar a ganhar pouco mais de 5.000 euros.

O raciocínio foi certamente rápido entre ganhar 5.000 euros para contribuir para melhor servir o país, sujeitando-se a críticas  e continuar a ganhar 15.000 euros num  cómodo lugar do Banco de Portugal não há que hesitar. O dinheiro está primeiro.

Este português não fez mais do que faria, infelizmente, a grande maioria dos portugueses. Primeiro estamos nós e o nosso bem estar (e o dinheiro faz muito jeito). E, no entanto, numa sociedade moldada pelos valores cristãos não haveria que hesitar. Entre servir o bem comum, por algum tempo, mantendo uma vida digna (5.000 euros mensais é mesmo pouco?) e amontoar dinheiro (quantos portugueses - trabalhadores ou empresários -  ganham 15.000 euros por mês?) a decisão não oferece dúvidas.

E teimamos em dizer que vivemos numa sociedade cristã. Pode ser cristã nos ritos religiosos da maioria dos portugueses, mas não passa disso. É cristã na superfície, profundamente pagã no essencial.

Sociedade cristã é aquela em que as pessoas se contentam com o essencial para uma vida digna e que em vez de olharem para cima, ambicionando mais riqueza, olham para baixo para os que necessitam, procurando ajudá-los.

(DM - 2-1-2025)